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Bullying, baixarias e outras porcarias

em quarta-feira, 5 de julho, 2017

Todo Mundo Odeia Cris – Seriado que retrata bem muitas questões de bullying.

O bullying não é novo, assim como qualquer tipo de violência. Mas acabou virando moda.

Vamos entender:

— Você assiste a um programa de televisão no qual aparecem cenas de pessoas levando tombo, se machucando, cometendo algum erro. Esses vídeos são expostos como um quadro humorístico, com risadas de fundo, trilha sonora e efeitos especiais. Para completar, o apresentador faz questão de ridicularizar aos protagonistas com frases do tipo:

 

— Olha o que essa anta vai fazer!

— Dá uma olhada como esse cara é idiota!

— Veja só o que vai acontecer com a gordinha!

— Tinha que ser com a baleia!

Conclusão: Ser exposto ao ridículo e ser rotulado como tal virou moda. Enquanto a ética e o respeito ao próximo são jogados no lixo.

 

— Aí, você muda de canal e um grupo de pseudo-humoristas, tenta fazer graça a custa de expor pessoas ao ridículo, em entrevistas maldosas, descabidas e atitudes jocosas que valorizam o preconceito de todo tipo. Esses mesmos pseudo-humoristas imitam personalidades como se fossem pessoas desqualificadas, em cenas regadas pelo humor sórdido.

Conclusão: Transformar as pessoas em idiotas diante de todos vira moda e o humor de baixa categoria alcança altos picos de audiência.

— No dia seguinte, você chega à sua casa e depara com programas que banalizam a violência. O apresentador pede que se repita cena nas quais torcedores agridem algum torcedor de outro time diante de câmeras vigilância e critica o ato com ares de justiceiro, recriminando a violência com caras e bocas, mas explorando insistentemente as deprimentes cenas para cativar a audiência sedenta de sangue.

Conclusão: A imagem da violência numa sociedade fragilizada e sem ética fica registrada. Assim, diante de tanta banalização da violência os problemas viram conversa de botequim, tal qual o resultado do jogo de futebol que desencadeou a agressão, enquanto se torna moda expor para o mundo todo, as humilhações sofridas pelas vítimas.

— Para completar você é obrigado a ter a programação recheada de cenas dos realities shows, com protagonistas que se despem de escrúpulos e recorrem à vulgaridade por dinheiro, para se projetar no meio artístico ou para alcançar a fama de qualquer outra maneira.

Conclusão: A privacidade alheia perde o sentido, pois as pessoas se comportam como fofoqueiras observando a vida dos outros das janelas de sua casa. O vale-tudo para se dar bem se transforma em palavra de lei e a falta de caráter vira moda, com os espectadores agindo tais quais os romanos durante o auge do Império, em pleno Coliseu, escolhendo quem vive ou quem morre.

Diante de tantos estímulos negativos, os jovens acham que podem rotular as pessoas por suas diferenças, tal qual nos vídeos de humor. Afinal, a constância fez o hábito. Praticam o bullying da mesma forma que o apresentador diante dos vídeos que apresenta. Valem-se do humor sórdido para ridicularizar as pessoas com acusações levianas e “pegadinhas”, da mesma maneira que fazem os humoristas que lhes servem de referência.

Gravam brigas no pátio ou na frente da escola e ainda colocam no YouTube para torná-las públicas, como nos programas que revelam os barracos gerados entre pessoas que ficam confinadas em uma casa vigiada por câmeras 24 horas por dia, transformando-os em hit da falta de escrúpulos.

Seguindo aos modelos, os jovens se unem em gangues, agridem negros, mulheres, homossexuais como se tivessem esse direito. Como nos humorísticos que ridicularizam o fato de se colocar um galã negro em novelas, que exibem mulheres seminuas como objetos sexuais e rotulam homossexuais em seres bizarros.

Esse é o perfil de muitos jovens que chegam à escola, cercados de maus exemplos, e a escola é obrigada a tentar reparar esses estímulos negativos, a falta de respeito ao próximo, o bullying, e, nessa queda de braço, acaba sendo fragilizada pelo bombardeio da mídia que transforma os formadores de opinião da televisão em ídolos.

O bullying, por exemplo, não justifica a invasão do atirador na escola do Rio de Janeiro, em 2011, principalmente porque comprovadamente ele sempre se mostrou desequilibrado. Mas o fato de ele ter escolhido a escola como alvo e ali descarregar sua insanidade, mostra como o bullying contribuiu pela opção.

Precisamos olhar com mais atenção para esse problema, o bullying, muitas vezes começa em casa, entre os familiares. Ele pode acontecer entre irmãos, primos. Quem nunca viu um irmão apontar problemas no outro de forma agressiva, com o propósito de gerar alguma humilhação? Quem nunca presenciou um irmão querer se mostrar mais poderoso que uma irmã?

Mas o que muitos sequer percebem, é que o bullying pode até ser provocado pelos mais velhos, quando se aplica rótulos a qualquer pessoa, comparando filhos com fulano que é o mais inteligente da sala, com cicrano que é já tem namorada, ou com beltrano que é craque enquanto ele é perna-de-pau?

Às vezes, o bullying é praticado inconscientemente e involuntariamente, pelos próprios pais diante dos filhos. Não acreditar em seu potencial, não confiar em suas atitudes, não compartilhar momentos bons e ruins, pode levar um filho a sentir-se como um perdedor diante de todos. Por esse motivo, todo e qualquer diálogo é importante e a confiança entre pais e filhos e mesmo entre os familiares, deve estar presente no dia a dia, dando apoio e orientando-os na superação de desafios.



por Egidio Trambaiolli Neto

Prof. Egidio Trambaiolli Neto - Diretor-Presidente da Editora Uirapuru, autor de 643 obras literárias, o segundo autor mais prolífico do mundo na atualidade e décimo oitavo na História da literatura mundial. Autor por 12 editoras, com obras publicada(...)