O JOGO DA VIDA E A VIDA DO JOGO

em quarta-feira, 29 de março, 2017

Jogo Excalibur – Mitra Officina de Criação

JOGOS DE TABULEIRO.

De um modo geral as pessoas encaram os jogos de tabuleiro como entretenimento, um passatempo, algo lúdico, divertido, despretensioso. Contudo, os jogos de tabuleiro são verdadeiras ferramentas de aprendizagem da mais nobre qualidade.

É possível, a partir dos jogos de tabuleiro, levar o indivíduo a uma integração ao jogo da vida de um modo efetivo e consciente, visto que estes jogos são sociais. Sim, descartamos neste momento os jogos digitais, mesmo que estes aconteçam entre duas pessoas, via computador, pois a frieza digital impede o olho no olho, a análise de comportamento, a sociabilização. Para muitos, perder um jogo para alguém da Polônia, da Namíbia ou de Papua Nova Guiné dá na mesma, “ninguém está vendo, mesmo”. Pior ainda acontece quando o jogador do outro lado é o próprio computador, pois o argumento é que a “máquina é imbatível”, programada para nunca perder. Uma vitória torna-se casual e contar para todo mundo que bateu o computador se transforma em uma façanha, mas coberta de desconfianças e desdém.

Jogo – O Menino, a Goiabeira e a Porta-Bandeira, cujo objetivo é fazer o Mestre-Sala e a Porta-Bandeira atravessarem a avenida durante o desfile

Já um jogo cara a cara é mais desafiador, a adrenalina corre solta, o enfrentamento presente do adversário é muito mais favorável ao desenvolvimento de várias interações sociais, o desafio cognitivo torna-se mais intenso e os laços afetuosos podem se consolidar junto aos torcedores e competidores.

Uma das contribuições sociais dos jogos de tabuleiros é a obediência às regras, assim como o atravessar o farol vermelho é passivo de punição, a falta de lealdade e de ética são condenadas com a exclusão do participante. Com os jogos de tabuleiro os limites tendem a ser respeitados, passa a ser uma questão de conduta moral, tão difícil nos dias de hoje. O respeito vem do saber esperar sua vez e aceitar vitórias e derrotas sem difamação ou agressividade.

Hoje, a falta de respeito é muito comum em muitos lugares em que a convivência é necessária, como acontece no trânsito. As pessoas não se respeitam e conduzem seus veículos como se fosse um jogo de vida ou morte, sem ética, sem remorsos, com o único foco existente é o de tirar vantagens sobre os outros motoristas. Já num jogo de tabuleiro, a prática, é a disputa de jogos como se fossem cavalheiros, obedecendo às regras, desejando boa sorte ao adversário com um gentil aperto de mãos.

Enciclopédia de Jogos de Tabuleiro – Mitra Officina de Criação

No que tange ao desenvolvimento cognitivo, os benefícios são imensos, o raciocínio lógico é exercitado a cada jogada, obrigando o jogador a criar suas táticas de defesa e ataque e antecipar mentalmente as jogadas. Um praticante dos jogos de tabuleiro também aprende a criar e desenvolver estratégias diante de situações-problema das mais variadas, algo tão essencial no nosso dia a dia, servindo de preparo para a introdução ao mundo corporativo  e à vida social para muitos jovens em idade escolar.

O ato de organizar também é exigido, caso contrário, o jogador torna-se um franco-atirador, alguém que depende da sorte, algo que não se deve contemplar nas decisões do dia a dia. A comunicação e a expressão são fundamentais em vários jogos, inclusive na interpretação de regras e na criação de competições como os campeonatos, conciliando o ato de organizar e negociar, entre outros, para se conseguir planejar e executar as partidas.

O aprender a administrar também emerge entre os praticantes dos jogos de tabuleiro, assim como a habilidade de liderar. Outra contribuição sumária está na capacidade de se concentrar, fundamental para um jogador, assim como o desenvolvimento da inteligência emocional, ou seja, a capacidade de reconhecer e avaliar os sentimentos pessoais e dos demais, assim como lidar com eles.

Go – jogo muito comum em países como a China

Cada vez mais os jogos de tabuleiro têm exposto seus prós: em sala de aula são excelentes para o desenvolvimento de competências e habilidades, algumas escolas dispõem de alguns jogos tradicionais para a prática, entretanto, a diversidade de jogos torna-se primordial para que estes sejam adequados à idade e ao gosto do jogador e permitam novas experiências desafiadoras.

Entre os idosos, além de tudo que foi exposto, os jogos de tabuleiro também colaboram no combate ao Alzheimer, retardando drasticamente seus efeitos. Em países do Oriente como China, Japão e Coreia do Sul, as praças ficam repletas de idosos que não dispensam uma partida de Go, um jogo estratégico de tabuleiro natural da China antiga, criado há mais de 2.500 anos e, desde então, muito praticado em países do Leste asiático.

Jogo – A Bailarina e a Bolha de Sabão – Tem por objetivo o combate ao preconceito racial.

Apesar de importantes, nem todos recorrem à tamanha ferramenta de aprendizagem. Enquanto em países do Primeiro Mundo os jogos de tabuleiro são usados, inclusive, para unir as famílias, aqui no Brasil ele tem sido abandonado e seu uso negligenciado. Um reflexo do descaso aparece na convivência social, as pessoas tendem a ser individualistas, egocêntricas, mau humoradas e até mau educadas. Não há uma filosofia social, atitudinal, que dirá a obediência às regras sociais que visam o bem estar comum. Os cidadãos de hoje não possuem habilidades interpessoais, fundamentais para o relacionamento humano.

É fundamental ter consciência de que os jogos de tabuleiros são exercícios essenciais para a vida, uma prática que prepara o indivíduo para situações adversas, evitando que o aprendizado com esses problemas aconteça de supetão, em uma experiência real, no difícil jogo da vida.

por Egidio Trambaiolli Neto

Prof. Egidio Trambaiolli Neto - Diretor-Presidente da Editora Uirapuru, autor de 643 obras literárias, o segundo autor mais prolífico do mundo na atualidade e décimo oitavo na História da literatura mundial. Autor por 12 editoras, com obras publicada(...)