Muitas vezes cruzamos a cidade e deparamos com crianças vendendo balas, pendurando guloseimas nos retrovisores dos carros e participando da incrível maratona do trocado.
Garotos realizam malabarismos, sobem nos ombros uns dos outros sem o menor aparato de segurança, se equilibram e lançam bolinhas de tênis ao ar com uma habilidade digna de um integrante do Circo de Solei. Elas fazem tudo isso pela possibilidade de conseguirem alguma moeda.
Transitando pela periferia em dias de chuvas intensas vemos meninos nadando e, até, jogando polo aquático nas águas imundas das enchentes, nas piscinas da ocasião, repletas microrganismos causadores de Doenças.
Nos grandes centros encontramos os pivetes, mascando chiclete de bola, cheirando cola e ameaçando a multidão com um canivete na mão.
E nas marginais, algumas fazem jus ao nome do local por onde transitam, mas outros se submetem a um sol escaldante para venderem água, pipoca doce, amendoim torradinho, cabos para celulares, óculos escuros, brinquedos da moda, panos de prato e até, drogas.
Muitos de dentro do conforto de seus carros servidos de ar condicionado, ao som de músicas armazenadas em iPhone, reclamam do calor, do trânsito e do tempo que estão perdendo.
Para coroar a vida dessas crianças que fazem de alguma dessas atividades o seu ganha-pão, os que se encontram no outro extremo da camada social retrucam do interior de seus carros luxuosos, com vidros blindados e janelas fechadas:
— Cadê os pais dessas crianças?
Provavelmente, se esses pais forem dignos, também estão tentando conseguir mais um punhado de moedas em trabalhos informais para que, pelo menos, naquele dia, sua família não passe fome.
Embora a força tarefa seja fundamental para as famílias miseráveis, isso não se justifica: lugar de criança é na escola! Por isso, o trabalho infantil continua fazendo vítimas, ceifando o futuro de muitas crianças de nosso país, preservando-as na indigência.
Enquanto isso, os mais favorecidos não se esforçam para mudar esse panorama e rebatem no conforto que o dinheiro consegue lhe dar:
— Esses moleques já nasceram fadados ao crime…
Mas, a criminalidade não está no DNA. Não vem de berço. Está na fragilidade da sociedade! Mais especificamente num sistema político-educacional ineficiente.
Será que as pessoas não entendem que a busca de todos é a mesma? Casa, comida, saúde, educação, lazer… de qualidade! O problema é que a sociedade espera que todos tenham a mesma sorte daquele jovem que saiu do barraco e foi morar em um palacete porque tem o dom de jogar bola; o mesmo, que ganha em um mês muito mais do que os ganhos no mesmo período de todos os que moram na comunidade em que ele nasceu.
Pois é, nosso país valoriza muito mais um jogador de bola do que os médicos, pesquisadores, professores, policiais… Sim, em nosso país a bola é usada para iludir, para gerar a esperança de sair da miséria.
Isso em parte justifica os porquês das pessoas não valorizarem a escola, não encontrarem nela meios vantajosos para vencer na vida. Os modelos educacionais são obsoletos, e a cada ano, um grande número de jovens que saem para o mercado de trabalho, acaba realizando tarefas simples, que praticamente não requerem nada do que lhe foi ensinado durante os doze anos que passou na educação básica.
Diante desse panorama, a escola perde sua finalidade: dar iguais oportunidades para todos. Principalmente porque a primeira coisa que muitos jogadores profissionais fazem, é abandonar a escola.
Enquanto os craques de futebol se renovam constantemente, cada vez mais ricos; a Educação Brasileira ainda tenta entra no milênio em que estamos.
Pois é, já estamos na segunda década do século XXI e o Brasil que sonha com a conquista de novas Copas do Mundo de futebol e quer se transformar em um país olímpico, ainda ostenta o título de ser um país sem Educação, com crianças perdidas, abandoadas e tratadas como escravas do sistema.